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STÉFANI GARCIA

Stéfani Garcia. Ela é linda. “Que moça bonita da porra!”, disse meu amigo quando viu as fotos do ensaio. Que história ela carrega em seus ombros, em seu peito, nas cicatrizes dos cateteres. Uma em cada lado do peito. Longa história para uma moça tão nova, mãe da Sophia, de nove anos. Atualmente, a Sté está no quarto round de sua luta, passou por um segundo transplante, que foi bem sucedido, e está fazendo as sessões de quimioterapia. Ela é imponente, entrou no apartamento para fazer o ensaio brilhante, cheia de luz ao seu redor. O sorriso é natural, gargalhava quando falávamos besteiras para ela, durante as fotos. Quanta força tem na vida e hoje, o sorriso que teve que insistir diversas vezes para aparecer, vem com naturalidade e em definitivo.

"Eu tinha acabado de chegar de Manaus, onde tinha morado por três anos, por conta do meu casamento, meu ex-marido foi transferido pra lá. Não agüentei a pressão lá e resolvi voltar. Assim que voltei, apareceu um caroço no meu pescoço, num dia de muito calor, eu passei a mão no pescoço e senti. Naquele momento, não me preocupei, deixei pra lá. Um dia, acordei assistindo um programa de televisão, estavam falando sobre o linfoma. Diziam exatamente o que acontecia comigo. Parecia que era pra mim. “Acorda! Vai ver! Vai procurar!” Me deu aquele start, procurei o oncologista que fosse me atender mais rápido e assim foi. Na biópsia deu positivo. “Vamos começar logo, porque eu quero terminar logo!” E desde então tô aí, desde 2011, tratando.

Aos 24 anos descobri minha doença, Linfoma de Hodking, um câncer no sangue! Fui pra cima com todas as forças e com muita pressa pra que aquilo que mal começara se acabasse. Um ano de quimioterapia e um diagnóstico errado levaram a minha família para a sala particular do meu médico. “Sua filha não vencerá essa doença!”. Um choque, a doença me consumia! Em 2012, corremos para São Paulo à procura de uma segunda opinião médica e eis que surge uma luz no fim do túnel: um novo protocolo. Eu, que nunca fiquei doente, nunca tinha imaginado passar por um tratamento tão invasivo, tão triste e tão doloroso - para a minha mente principalmente! Comecei com vários ciclos de químio e logo surgiu a descoberta de um derrame no pulmão. Mais uma internação e pulmão recuperado! É estranho como você tem que lidar com a mente, de uma hora para outra a sua vida não é mais a mesma. Em um ano, tantas mudanças. Perdi a família que construí, ganhei o direito de viver longe do meu maior tesouro, minha filha. E assim, a doença vai tirando teus motivos de alegrias, as coisas que te fazem sorrir... Depois de um protocolo longo, eis que entrei em remissão, estou ótima! Uma guerra vencida. Só que não.

2013 passei linda, me recuperando, cabelos crescendo, trabalhos surgindo... Quando, de repente, a doença se mostrou em atividade num exame de rotina. Dessa vez, já partimos para o transplante de medula óssea, que foi lindo e bem sucedido! Também pudera, sete meses internada, morando no hospital! Um cateter em cada lado do peito e muitas cicatrizes de biópsias pelo corpo.  Enfim, estava curada pós transplante! Vida que recomeça pela segunda vez. Cabelo crescendo, planos pra trazer minha princesa de volta. “Enfim vou realizar minhas vontades". Mais um ano de recuperação. E quando fiz exames pra retirar o cateter, quem aparece? Sim, pela terceira vez ele me pegou! Naquele momento da minha vida, eu estava muito feliz, viajava, sempre contemplando a natureza, o sol e a minha maior paixão, a praia! E ter que parar com tudo aquilo pela terceira vez foi muito difícil. O mesmo hospital, a mesma maca, o mesmo cheiro, os mesmos enfermeiros me olhando entrar pelo corredor com um ar de tristeza, porém, sorrindo pra mim.

Cá estou eu novamente, sentada no chão do banheiro, vendo meu cabelo preto fazer contraste com o chão branco. Dessa vez, as forças já não eram as mesmas de três anos atrás. Levei minha filha pra curtir comigo meus últimos dias antes da internação, foi demais! Fazer as malas da volta dela mais uma vez é que foi perturbador! Fiz aos prantos. Instalei-me no quarto um, que ainda não tinha ficado, mas perdi um amigo nele. Na verdade, fiquei tanto tempo nesse hospital que fiz muitos amigos. Uns que hoje estão bem e vários outros que se foram.Eu queria chorar, mas tenho uma leve fama de ser forte, então me lembrei da infância quando minha avó dizia: "Engole esse choro, menina!". A primeira noite foi um terror, passei acordada, e às seis da manhã já estava sendo furada. Mais alguns meses internada, sem um banho de cabeça completo... Meses sem poder lavar o pescoço com água! Naquele momento eu só queria um banho decente!

Mais uma vez, careca e mais uma vez: recuperada! E agora, depois de seis longos anos de tratamento invasivo, muita dor, muitas lágrimas e muitos sorrisos...? Agora esse bichinho se encontra morando dentro de mim mais uma vez! Porque não podia ser diferente, né? Quando a minha vida começa a andar, esse bicho me pega! E pra piorar, veio em um momento onde me encontro sem suporte de plano de saúde. Confesso que estou com medo. Pensei em desistir de fazer esse tratamento pela 4ª vez, preciso caminhar pra frente... Sinto-me estacionada! Mas aí, eu olho ao meu redor e vejo quantas pessoas se importam comigo, quantas pessoas eu consegui, de uma forma sutil, ajudar com a minha experiência. Vejo quantas pessoas me amam de verdade, o quão triste elas ficariam se eu desistisse, principalmente minha filha, que precisa de mim! São esses os motivos pelos quais eu encontro forças hoje! Ainda vou cumprir a promessa que fiz à minha filha de nunca mais nos separarmos, eu sei que vou cumprir!" - Stéfani Garcia

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