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LIANG WEI

Se Liang tivesse que preencher aqueles formulários onde tem que responder a graduação, precisaria de espaço extra. Com apenas vinte e seis anos, já é formada em Administração, Pedagogia e está cursando Letras. Além disso, é graduada em não responder mensagens em WhatsApp. Tá aí uma pessoa que é um teste para a minha ansiedade. Até pensei que poderia ser pessoal, mas não é. Liang é direta, não há meio termo, se ela não quer algo, se sente algo, ela fala. A moça é franca. 

Acredito que quando acorda, em Praia Grande, onde mora há alguns anos, Liang abre os olhos e pensa o que fará em um dia com apenas vinte e quatro horas. Pelo o que eu entendi, faz tudo ao mesmo tempo, é agora ou nunca. Está posando e no hiato entre uma pose e outra, pega o celular, manda um áudio para a escola onde trabalha, com instruções para um interlocutor, depois manda outro áudio para alguma parceria, olha as mensagens, sorri, volta a ficar séria.

Eu já a havia fotografado outras vezes. Desta vez, o assunto das fotos seriam os patins, uma grande paixão de Li. “Comecei a andar de patins muito nova, foi responsável pela primeira cicatriz que eu tenho, essa daqui”, conta, mostrando uma marca no joelho. Confessou ter abandonado o esporte, porém, voltou na adolescência. Anda de patins praticamente todos os dias e o tempo de cada passeio varia. “O tempo que dá. Varia por causa do trabalho. É meio complicado, mas normalmente uma hora e meia, duas horas, andando”, explica. Além de ajudar a moça a ficar em boa forma, treinando músculos das pernas, abdômen e cardio, também ajuda a esclarecer as ideias. É uma terapia.

Terapia essa que vai se transformar em projeto. Em seu Instagram, Liang já dá consultorias para novos praticantes do esporte. Está para lançar um e-book com dicas, vai gravar vídeo aulas ensinando como andar com as oito rodas embaixo dos pés, e começará um e-commerce em breve, onde ajudará as pessoas a escolherem os melhores produtos para suas necessidades. Além dos patins, vai à academia fazer musculação, e pratica stand up paddle, yoga e Prancha de Equilíbrio.

Outra paixão de Liang é a leitura. “Leio alguns livros”, está na descrição do perfil do Instagram. Leitora voraz, confessa ler eventualmente cinco livros de uma vez, e não mistura as histórias ou personagens. Nada de Policarpo Quaresma encontrar o Querido John na Segunda Guerra Mundial. “Não gosto de romance, que tudo gira em torno do casal… Romance meloso, não é meu estilo, sabe?”, avisa. Prefere os livros com histórias reais, biografias e estudos.

Se você ficar próximo dela por um tempo, entenderá que é uma pessoa muito independente, confessa sempre ter feito as coisas sozinhas, viaja sozinha e ama aventuras. Pretende conhecer a África, mas não antes de desbravar bem o território brasileiro. E fará isso quando der vontade, pois ela é sua melhor companhia. “Eu realmente gosto do tempo comigo, gosto da minha companhia, dos meus pensamentos, fazer o que quero, na hora que quero”, explica.

Mas de todas as características de Liang, a que mais me impressionou, desde a primeira vez que a vi, foi sua liderança. É natural, sinto isso quando a vejo com os amigos, nas redes sociais ou ao vivo, ela tem essa função de cuidar, de ser mãezona e de pegar na mão e não largar, quando necessário. E transmite ao mesmo tempo muita força, que eventualmente transforma-se em um riso, e isso a faz disfarçar o sorriso, ou desviar o olhar para ou outro lado, quando sente-se desconcertada.

Parece estar imponente e forte, cem por cento do tempo. Essa força vem de três mulheres que convivem com ela: Mary, Marlene e Meilyng, mãe, avó e irmã, respectivamente. As quatro lutaram juntas, para conquistar um legado de trabalho, que cresce com a gota de suor de cada uma. Se você duvida da força das mulheres, pode perguntar para a família Wei, e terá uma lição sobre isso. “Todas as mulheres próximas, da minha família, minha vó, minha mãe, minha irmã, minha tia, são pessoas que me influenciaram muito! Minha mãe se virou nos trinta, para construir tudo que temos hoje”, conta orgulhosa.

E nisso, sinto que existem duas Liangs: a séria, empresária, que trabalha sem parar e ama tudo que faz, e tem a Liang divertida, que está sempre festejando com os amigos ou passeando por aí. “Por mais que eu saiba separar, eu não deixo de ser as duas”, conta. É uma pessoa extremamente equilibrada, talvez os patins sejam uma metáfora da vida dela. 

E se por acaso você estiver de bobeira pelas ciclovias da Baixada Santista, e uma jovem passar voando por você, com os patins nos pés, saiba que ali, os patins não carregam apenas uma moça independente e forte, carregam também os sonhos de uma mulher cheia de princípios, com um coração brilhante, que sabe que a vida é agora ou nunca, e que não tem tempo a perder, afinal, não vai viver para sempre, mas viverá de forma intensa. Liang parafrasearia Frank Sinatra: “eu fiz do meu jeito”. 

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